Enoch Barreira de Macedo
Irrompido o movimento constitucionalista, na tarde de
15 de julho de 1932, no jardim público de Tietê, deu-se o comício do MMDC para
assinatura dos voluntários que quisessem integrar o batalhão em organização.
Mais de 100 jovens e homens já idosos assinaram o
livro de adesões. Na noite de 19 de julho, partiram os tieteenses com destino a
São Paulo. No resto da noite pernoitaram os tieteenses no pátio interno da
Faculdade de Direito e no dia seguinte seguiram para Quitaúna, onde se
acamparam à espera de organização militar. Desta estava encarregado o Tenente
Adauto de Mello, que fez com que os moços tieteenses formassem a 2ª Companhia
do 6º B. C. R.
Enoch de Macedo que não assinara no livro de
“Compromisso” foi a São Paulo, espontaneamente, procurar o quartel dos
tieteenses e se integrou no “Batalhão de Tietê”, de corpo e alma.
Em 27 de julho o 6º BCR foi enviado à frente de
combate, no denominado setor sul, com sede em Itapetininga. Daí
a poucos dias o Batalhão Tietê se deslocava para Vitorino Carmilo, a ocupar uma
linha de trincheiras, quase em frente à cidade de Buri.
Os paulistas que aguardavam o ataque dos ditatoriais
cavavam trincheiras individuais e também Enoch preparou a sua, muito bem feita,
lembrando os tempos da Coluna Prestes (da qual participara), segundo depoimento
de seus camaradas.
Aproxima-se a data do batismo de fogo dos tieteenses
e do 6º BCR.
O Coronel Kinguelhofer, veterano da guerra européia
de 1914 a
1918, comandante do setor, assim escreveu sobre o combate de Buri, de 15 de
agosto:
“Às 6h 50min da manhã o inimigo abre fogo com todas
as suas baterias; identificamos no mínimo oito. A princípio o tiro é por peça,
naturalmente procurando a boa alça. Em seguida é por bateria, grandes, de
percussão e “sharrapenel”. Os pontos visados são: a direita, um pouco acima da
estação, o meu PC, às alturas à esquerda e o máximo de intensidade de fogo
sobre as posições do 6º BCR. Esta insistência de rolamento sobre o 6º é
evidente e lógico. O inimigo vai querer furar daquele lado, a fim de abrir a
estrada de Capão Bonito. O fogo durara todo o dia.
O inimigo continua a forcejar sobre o infeliz 6º BCR
e a minha última reserva já está no fim”, afirma Kinguelhofer.
Às 17 horas, uma companhia do 6º BCR cede; os homens
exaustíssimos, reduzidíssimos e com pouca munição.
Foi nessa hora que tombaram mortos, em suas
trincheiras, Indalécio Costa e Enoch Barreira de Macedo. Ferido mortalmente
Luiz Fernandez Diogo e levemente José Teixeira Pinto.
Enoch Barreira de Macedo levava a sua temeridade ao
gesto de ficar em pé na trincheira, para melhor atingir o inimigo. Numa dessas
vezes foi ferido mortal e heroicamente. Passada a refrega os ditatoriais
sepultaram-no na trincheira que bravamente defendera e onde dorme o sono
eterno.
Pena que passado o tempo das hostilidades e voltada a
relativa paz política, as autoridades tieteenses não cuidassem da transladação
dos seus despojos. Tal não aconteceu com Indalécio Costa, que, também sepultado
na trincheira, foi procurado pela família e trazido para a sua terra.
Houve um movimento em favor de Enoch neste sentido,
que não durou muito e caiu no esquecimento.
“Não tenho dados biográficos de Enoch Barreira de
Macedo e talvez sejam encontrados nos assentos relativos aos funcionários da
antiga Estação Experimental de Algodão, do tempo em que lá trabalhou quando
chegou a Tietê.
Era baixo de estatura, magro, cabelos lisos e pretos,
de tez morena como os dos índios. Solteiro conhecido, do qual ignoro o rincão
do Piauí onde viu a luz do mundo. Após a sua morte foi divulgado que sua velha
mãe ainda vivia naquela região nordestina. Nada mais se sabe...”
A imprensa tieteense, falando de Enoch Barreira de
Macedo, em 16 de outubro de 1932, ainda no calor da Revolução Constitucionalista,
escreveu sobre suas virtudes cívicas, e, essa memorável manifestação é
testemunho do seu valor pessoal. Que seja transcrito nas páginas da história.
“Tietê, terra em que sempre vibrou o entusiasmo pelas
causas boas, ao ouvir o brado de reunir, dado por São Paulo, acudiu pressurosa,
fornecendo importante contingente de homens válidos, imediatamente incorporados
a batalhões de voluntários que seguiram para o “front”, indiferentes à sua
sorte, visando unicamente a grandeza e o bem-estar do Brasil.
Entre os valentes que sofreram e cumpriram o seu
dever, merece especial referência Enoch Barreira de Macedo, natural do Piauí,
morto por bala de fuzil, dentro da trincheira, no grande combate de Vitorino
Carmilo, ocorrido em 15 de agosto, com a coragem que demonstrou todo soldado
constitucionalista. Enoch enfrentou firme no seu posto, o inimigo em número
esmagador, protegido pela artilharia formidável, da qual não dispunham os
paulistas, que lutaram até o final, com inferioridade manifesta, em armas e munições.
De compleição minúscula, Enoch provou que não precisa
ser homem grande pra se tornar grande homem, bastando, para isso, que se tenha
convicção de grandeza e justiça da causa defendida.
Revolucionário de 24, contra os desmandos do governo
Bernardes, prestou em 30 o seu concurso contra as violências e desrespeito à
lei, perpetrados no quatriênio de Washington Luis, para a revolução última,
cujo desfecho inesperado dará montanhas de comentários, colocou-se ao lado de
São Paulo, paladino do regime legal, único compatível com a liberdade que deve
gozar todo ser consciente.
Combatendo por São Paulo, Enoch Barreira de Macedo
adquiriu o direito de ser considerado seu filho dileto, fazendo jus às
homenagens de Tietê que, de ora em diante, o considerará como um de seus mais
dignos e respeitáveis homens, que voluntariamente, tendo escolhido o seu solo
para a instalação do seu próprio lar”.
(Benedicto Pires de Almeida)
Indalécio Costa
Indalécio de Arruda
Costa, filho de Luiz da Costa e Francisca de Arruda Costa, nasceu na Fazenda
Barreiros, Município de Tietê, em janeiro de 1907.
Iniciou os estudos
em Tietê, no Grupo Escolar Luiz Antunes, bacharelando-se pelo Colégio
Arquidiocesano, de São Paulo, no ano de 1926. Atraído pela grande expansão do
mundo do café, na época, iniciou, em Santos, serviços no setor de exportação.
Interrompeu seus
trabalhos quando aderiu ao movimento dos revolucionários de 32, partindo como
combatente ao lado de outros tieteenses.
Faleceu em combate,
a 15 de agosto de 1932, em Buri.
Luis Fernandes Diogo
Luiz Fernandes
Diogo, filho de Antônio Fernandes Diogo e de D. Otília Zaneto Diogo, nasceu em
Tietê, no dia 19 de setembro de 1910.
Era solteiro e
exercia a profissão de pedreiro. De pequena estatura e pernas tortas, era
conhecido pela alcunha de “Cacetinho”.
Alistou-se junto ao
batalhão tieteense a fim de prestar seus serviços à causa constitucionalista de
1932.
Durante a noite do
dia 15 para 16 de agosto do mesmo ano, embora ferido, arrastou-se debaixo de
chuva torrencial, atingindo um posto da Cruz Vermelha, entre Vitorino Carmilo e
Ligiana.
Depois de medicado
ligeiramente, foi encaminhado para Ligiana e Itapetininga, dando impressão que
seus ferimentos não eram graves. Todavia, foi transportado para Tatuí e
Sorocaba, em cujo hospital de sangue veio a falecer.
O seu corpo foi
removido para Tietê e sepultado com grande acompanhamento no dia 15 de setembro
de 1932, um mês depois de ferido.
Luiz da Costa Junior
Filho de Luiz da Costa e Francisca de Arruda Costa, era irmão de
Indalécio Costa.
Foi uma dos
tieteenses combatentes na Revolução Constitucionalista de 1932.
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